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Lilith e o mito da descida de Inannah
Quando encaramos nossas sombras para nos libertarmos
Por Marcelo Levi em Mitos e reflexões
Publicado em: 28/06/2021 às 05:37
Modo claro
5 minutos de leitura
Quer saber como essas informações podem afetar sua vida?
Na astrologia, Lilith representa nossas emoções reprimidas, desejos ocultos e demais opressões. Na mitologia, é símbolo de diferentes histórias.
Muitos mitos colocam Lilith como um demônio que representa tudo aquilo de ruim que a sociedade enxerga ligado a mulher, como uma mulher que rouba maridos, mata crianças, faz aborto, fala sobre os próprios desejos, reconhece e honra suas necessidades ao invés de sacrificá-las pelos outros e não é submissa na vida e no sexo.
Com o feminismo, tivemos uma ressignificação de Lilith. Seus mitos passaram a ser interpretados de outra forma e vemos ela surgir representando várias deusas como Ishtar e Parvati/Kali.
Um mito que gosto muito é o da Descida de Inannah, uma lenda suméria que fala sobre uma deusa do Amor e da guerra que desce para o submundo.
Esta deusa recebeu um presente que só poderia abrir com um grande conhecimento. Ela descobre que assistindo o sepultamento de um rei do submundo, ela poderia ganhar um enorme conhecimento. Coincidentemente, sua irmã Ereshkigal, rainha do submundo, perde seu marido, o Rei Nergal.
Sob o pretexto de acolher a irmã, Inannah decide partir para o submundo para ver o sepultamento de Nergal e pede à sua criada que, se ela não voltar em 3 dias, que faça vários cortes pelo corpo e suplique pela ajuda dos deuses.
Inannah se apresenta aos portões do submundo vestindo muitos trajes e objetos sagrados. O servo que guarda o portão do inferno avisa Ereshkigal que sua irmã quer entrar no submundo. Furiosa, Ereshkigal acredita que a deusa quer zombar dela e tomar o submundo neste momento de fragilidade. Manda então que o servo tranque todos os portões e abra, em seguida, um de cada vez enquanto a acompanha, e que, para cada portão, ele deve tirar um dos objetos dela.
No 1º portão, Inannah entrega a coroa, símbolo de sua divindade. Inannah fica com muita raiva e questiona a atitude do servo, mas este lhe fala: "As regras do submundo não podem ser questionadas".
No 2º portão, ela precisa retirar os brincos de lápis-lazúli, que representam as habilidade e conhecimentos sobre magia e a capacidade de se manifestar.
No 3º portão, a deusa deixa ir a dupla fiada de pérolas no pescoço – o êxtase da iluminação.
No 4º portão, Inannah entrega o peitoral dourado - simbolizando o seu coração, as emoções.
No 5º portão, Inannah dá o cinturão da anca - o seu ego.
No 6º portão, Inannah abdica do bastão - a sua vontade.
No 7º portão, Inannah entrega as suas vestes femininas – o seu poder sexual.
Isso é uma representação de como somos privados das nossas defesas que são o que constrói, muitas vezes, nosso ego quando experimentamos uma crise.
Quando chega no submundo desnuda, Inannah é julgada culpada, visto que um deus não pode entrar ali - quanto mais pelada.
Ereshkigal atira uma lança que atravessa a cabeça de Inannah, a matando na hora.
Passam três dias e sua serva faz o que Inannah pediu.
Os deuses falam que Inannah teve o que mereceu, mas seu tio-avô, Enki, fica muito triste e envia duas bestas para o resgate da neta, as instruindo para se transformarem em moscas para invadir os portões e repetir qualquer lamentação que escutassem.
As duas bestas descem para o submundo e ouvem os lamentos de Ereshkigal. Ela diz aos choros: "minha parte interna...". As criaturas repetem com voz de tristeza: "sua parte interna...". Ela diz: "minha parte externa...". As criaturas repetem: "sua parte externa..."
Emocionada após receber a empatia das criaturas (que é tudo o que nossa sombra precisa), ela concede às criaturas um desejo. Elas pedem o corpo de Inannah. Ereshkigal diz "tudo menos isso". As bestas falam que não aceitarão nada além disso. Ereshkigal cede e as criaturas dão ao corpo da deusa a comida e a água da vida, a ressuscitando, e a trazem de volta à superfície.
Ao chegarem lá, Inannah vê que seus filhos e servos estavam todos extremamente tristes com sua morte. As criaturas interrompem os reencontros dizendo que as regras do submundo pedem que alguém ocupe o lugar dela e perguntam quem ela quer mandar para lá.
Inannah não quer fazer isso com nenhuma serva e nem com seus filhos. Ela percebe, então, que o marido é o único que não está naquele local. Ela procura por ele no castelo e o encontra tranquilo e com comida farta. Então, diz às criaturas: "podem levar ele".
Ele foge de todas as formas, mas as criaturas o pegam três vezes. Isso simboliza que não podemos nos esconder de nossas sombras.
A irmã do homem fica arrasada ao ver e tenta impedir, sendo torturada pelas criaturas. Ela pede então que se for pra levar o irmão ao submundo, que a levem também.
Inannah fica tocada com o sacrifício de sua cunhada e pede que eles façam um revezamento. Por seis meses, fica o marido no submundo e sua cunhada na superfície, e nos outros seis meses, o marido fica na superfície e a cunhada no submundo. Assim é feito.
Inannah senta no trono mais forte e mais sábia.
Talvez você esteja se perguntando que presente de sabedoria é este que Inannah recebeu.
Ao ver como sua irmã lamentava a morte de Nergal e comparar com a maneira que seu próprio marido reagira à sua morte, ela percebeu que este não a amava de verdade.
Esse mito representa as crises necessárias que passamos para reconhecer e aceitar nossas sombras. Inannah quis ir para o submundo sob um pretexto mentiroso para benefício próprio. Foi julgada, morta e renascida muito mais sábia, pois abriu mão do ego e encarou sua outra face.
Lilith representa coisas que ocultamos de nós, frustrações que, quando aceitas, nos tornam seres insubordináveis, livres e empoderados.